LEITE

ÁREA : 425.00 m² | ANO : 2009 | SANTO ANTÔNIO : RECIFE
O Leite — a mais querida segunda casa da sociedade pernambucana — ganha uma reforma que atualiza a sua atmosfera elegante, tradicional e sofisticada.
Aberto em 1882, o restaurante — o mais antigo do país — ocupa um casarão de esquina na Praça Joaquim Nabuco, às margens do Capibaribe, no bairro de Santo Antônio. A área é de 425.00 m².
Ainda no século XIX, Manoel Leite — proprietário original — importou da Europa louça inglesa, taças e copos de cristal Baccarat, talheres de prata, toalhas adamascadas francesas, alabastros, floreiras e tapetes, apresentando uma casa luxuosa e requintada.
Em poucos anos, o restaurante conseguiu conquistar a preferência da mais alta sociedade pernambucana à época — senhores de engenho, políticos e intelectuais. Em 1910, a casa foi vendida a Bernardino Silva, que a comandou por 35 anos, repassando-a então a João Lacerda — até que, na década de 50, teve início a administração da família Dias.
Armênio Dias — à frente do Leite desde 1956 — abre as portas todas as semanas de um local centenário, que atravessou grandes momentos sócio-políticos nacionais, como a evolução do ciclo da cana de açúcar, a abolição da escravatura, a proclamação da República e as revoluções de 30 e de 64. As suas mesas já abrigaram personalidades que fizeram história, como Assis Chateaubriand, Gilberto Freyre, João Pessoa, Barbosa Lima Sobrinho, Juscelino Kubitschek e João Goulart, e artistas e poetas como Carlos Pena Filho, Francisco Brennand, Jean-Paul Sartre e Burle Marx.
A obra — uma completa reforma, realizada em dois meses, e a terceira grande alteração pela qual passa a casa em suas muitas décadas — começa já do lado de fora: as linhas da fachada são preservadas, mas recebem nova pintura, em um sofisticado tom de marrom claro, e molduras brancas nas portas e janelas. As esquadrias em madeira e os azulejos foram restaurados. A entrada ganha nova marquise — em latão dourado —, e as pedras portuguesas da calçada foram reassentadas. A placa — igualmente em latão — anuncia a tradição e a história que cercam o estabelecimento.
As novas cores, materiais e formas deixam o salão mais elegante e sofisticado, e ainda com a atmosfera inequivocamente clássica. A suave paleta de cores — em tons de creme e off-white — alia-se à mistura fina de madeira, palha, couro e tecidos, formando a base para um ambiente em que a tradicionalidade embala as necessidades da época atual. A treliça em madeira que faz o forro não apenas apresenta propriedades acústicas, mas acomoda — e esconde — a carga tecnológica necessária ao funcionamento: ar-condicionado, tubulações, sprinklers e caixas de som.
As paredes ganham placas recobertas em um atraente tecido listado, que fazem par com as cortinas em veludo creme. A área do bar e espera é inteiramente repaginada, com novas formas e materiais. As cadeiras da espera recebem novas forrações, e contracenam com a galeria de retratos, que contam um pouco da história do local, acima da parede em capitonê. O piso em granito é original. As cadeiras do restaurante — quase centenárias, em madeira, com assento em palhinha — foram minuciosamente restauradas.
A luminotécnica suave e cheia de clima, assinada pela nossa equipe, entra no lugar das antigas lâmpadas fluorescentes — as estrelas do projeto são oito grandes lustres em tecido plissado, que com quase um metro de diâmetro roubam a cena, e são desenhados sob medida. O sistema de ar condicionado apresenta tecnologia ultramoderna — e que permite a purificação do ambiente na ordem de 98 %.
Na ambientação, a armadura medieval — que já existia no espaço, e que foi mantida — faz par com os novos apoios de garçom, em madeira e espelhos, posicionados nas colunas centrais. A reforma na cozinha é igualmente abrangente — apresentando novos revestimentos de piso e paredes, novas bancadas e uma moderna câmara fria.
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Armênio Dias deixa clara, aliás, a razão de tantos anos de sucesso — ‘ o coração do Leite é a cozinha séria, que trabalha com produtos frescos ‘. E a cozinha, há mais de 20 anos, está sob a batuta de Edmilson Araújo, carinhosamente chamado de Bigode — ‘ ele é espetacular ‘ , confirma Armênio.
O cardápio da casa é uma caprichada seleção dos grandes momentos da culinária portuguesa tradicional — alguns deles em novas versões, adaptadas a partir dos comentários da clientela. A doçaria d’além mar — claro — não poderia faltar, para arrematar a cena.
Parte da memória afetiva da cidade, o Leite ganha ampla cobertura da imprensa ao reabrir após a reforma.
A jornalista Flávia de Gusmão, para o Jornal do Commercio, escreve: ‘ o projeto respeita a secularidade — e sacralidade — contida entre as paredes do restaurante ‘.
João Alberto, no Diário de Pernambuco, continua: ‘ o teto ganhou treliças de madeira, além de lustres enormes e lindos … os espelhos deram amplitude ao ambiente, detalhe complementado pela forração das paredes em tons de creme, em sintonia com a atmosfera clássica e sofisticada do centenário restaurante ‘.
Vanessa Lins, na Folha de Pernambuco, arremata: ‘ o que se vê é um salão mais elegante, sóbrio, tramado em tons pastel, sem, no entanto, desligar-se da verve de tradicionalismo que norteia a casa, no projeto harmonioso de arquitetura ‘.
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